MetaCast PT #09 - Um ano de pesquisa em Harvard ainda durante a Faculdade de Medicina

Rhanderson Cardoso: Fala pessoal, sejam muito bem-vindos a mais um episódio do MetaCast. Hoje eu tenho a honra de receber aqui Antonio Mutarelli, direto de São Paulo, Minas Gerais. Ele vai contar pra gente a trajetória dele até aqui. Antonio, prazer receber você aqui no MetaCast, o podcast do Meta-Analysis Academy.
Antonio Mutarelli: Muito obrigado, professor. É uma honra ser convidado pra estar aqui. Muito obrigado.
Rhanderson Cardoso: Maravilha. Então eu vou pedir ao Antonio pra se apresentar, e tenho várias perguntas boas aqui pra ele. Mas antes, quero só fazer aquele aviso importante no começo: o MetaCast não está afiliado às instituições onde eu e o Antonio trabalhamos; as opiniões aqui são exclusivamente minhas e nossas.
E aqui também quero deixar o convite pra vocês participarem do Meta-Analysis Academy e já fazer o disclaimer também. O Meta-Analysis Academy é um treinamento que ensina estudantes de medicina e médicos do Brasil e do mundo todo a fazerem pesquisa com qualidade e com autonomia através de revisões sistemáticas e metanálises. Nós não fazemos pesquisa pelos nossos alunos, mas seria uma honra te ensinar a metodologia, estatística e escrita de metanálises. Então entre na lista de espera se você quer participar da próxima edição.
Rhanderson Cardoso: Antonio, cara, que alegria saber que você está aqui. Nós nos conhecemos, acredito, há quase dois anos já, no contexto do Meta Academy. Você é dos alunos que mais têm se destacado aí com publicações na cardio, na neuro. Se apresenta pro pessoal aí, conta um pouquinho de onde você é, como você veio parar aqui em Boston.
Antonio Mutarelli: Então, eu sou o Antonio, sou de São Paulo, nascido e criado lá, e fui pra faculdade na UFMG, em Minas Gerais. E daí, a partir da faculdade, me envolvi em alguns projetos de iniciação científica que tinham alguns trabalhos aqui com o pessoal do Mass General, e foi por essa ligação que eu consegui vir pra cá.
Rhanderson Cardoso: Maravilha. Então você agora, só pra deixar claro pro pessoal, está fazendo Research Fellow no Massachusetts General Hospital, Harvard Medical School, não é isso?
Antonio Mutarelli: Isso, exatamente.
Rhanderson Cardoso: Em qual ano da faculdade você está lá no Brasil?
Antonio Mutarelli: Eu estou no último ano, no sexto ano.
Rhanderson Cardoso: Perfeito. Vamos começar por aí. Eu quero saber também como foi o começo da faculdade, essa iniciação científica que eventualmente te trouxe essa oportunidade, mas vamos falar sobre o Research Fellow. Há quanto tempo você começou?
Antonio Mutarelli: Estou aqui há um mês e duas semanas.
Rhanderson Cardoso: Maravilha, então relativamente recente. Vamos começar por isso: como foi essa transição, já terminando a faculdade? Você chegou aqui em Boston pra começar o Research Fellow. Como têm sido essas cinco ou seis semanas iniciais?
Antonio Mutarelli: Essa transição é engraçada porque eu estava no internato rural—lá no Brasil a gente faz isso, né.
Rhanderson Cardoso: Qual cidade?
Antonio Mutarelli: Três meses numa cidade chamada Salto da Divisa, no norte de Minas, tem sete mil habitantes. E eu vim direto pra cá. Saí de lá, peguei voo até Belo Horizonte, fiquei um dia em Belo Horizonte arrumando as coisas, fui pra São Paulo, fiquei dois dias em São Paulo arrumando as coisas e vim pra cá. Então foi um choque de realidade, mas estou gostando muito, muito feliz de estar aqui.
Rhanderson Cardoso: Maravilha. Só lembrei de uma história minha também. Quando eu estava no quinto ano da faculdade, no meio do internato rural, dei uma pausa e vim apresentar trabalho no Congresso Americano de Arritmias Cardíacas, no Heart Rhythm Society. Numa cidade tão pequena, em Jataí, no interior de Goiás.
Cara, muito bom. E Antonio, como têm sido essas semanas iniciais aí com o pessoal lá no Massachusetts General? Para o pessoal que considera fazer o Research Fellow, explica pra eles como é esse começo. Você chega lá e tem projetos em andamento? Eles já te dão serviço ou tem muito treinamento no começo, parte técnica, administrativa? Como é?
Antonio Mutarelli: No meu caso, eu acho que sempre varia um pouco, né. Mas teve muito treinamento—acho que isso todo mundo tem—pra você aprender a mexer em tudo do hospital, nos clinical charts, tudo isso. E já tinha alguns fellows lá fazendo alguns trabalhos, então pude, já no começo, me envolver em alguns trabalhos deles. Eles trabalham com "large animals", então porcos e ovelhas, e em alguns momentos já pude participar.
Uma coisa curiosa que aconteceu é que o trabalho grande que a gente está fazendo aqui, de cardiopatia reumática, de febre reumática, não é só aqui. Temos trabalhos no Brasil, na África e tal, vários grupos pra...
Rhanderson Cardoso: Que legal.
Antonio Mutarelli: ...conseguir pacientes. Aconteceu que eles estavam demandando muito, e é o trabalho que eu vim aqui mesmo fazer. Então esse mês, que às vezes é meio calmo pras pessoas, foi um pouco puxado, mas acho que é legal mostrar serviço e ajudar no que dá, né.
Rhanderson Cardoso: Eu tenho contato com vários research fellows, muitos deles nossos alunos que vieram aqui pros Estados Unidos, e a reclamação no começo é essa geralmente: que falta um pouco de serviço, tem pouco serviço. Mas no seu caso, você já chegou e começou assim. Eu até espero que melhore.
Antonio Mutarelli: Não, até espero que melhore pra gente poder focar em outros trabalhos, outros projetos, pra não ficar só nesse.
Rhanderson Cardoso: Então é na cardiologia que você está estudando?
Antonio Mutarelli: É, na cardiologia.
Rhanderson Cardoso: Qual é a área geral?
Antonio Mutarelli: Ecoimagem, mas estou aqui por causa de doenças tropicais. Lá eu trabalhava com cardiopatia reumática e Chagas. Minha professora é a doutora Maria do Carmo, ela é super especialista em ecocardiograma e doenças tropicais.
Rhanderson Cardoso: Perfeito. E tem PI, "principal investigator", do seu laboratório lá?
Antonio Mutarelli: Tem. Ele trabalha no Mass General.
Rhanderson Cardoso: Uhum.
Antonio Mutarelli: Ele trabalha muito com válvula mitral e, por isso, com cardiopatia reumática. Chagas nem tanto, mas com cardiopatia reumática. Ele trabalha muito com prolapso mitral, mas acaba que nos países subdesenvolvidos tem muita cardiopatia reumática.
Rhanderson Cardoso: Maravilha, muito bom. E como tem sido a receptividade do pessoal lá? Além de você falar que tem muito trabalho já desde o começo, mas o pessoal é amigável, te acolheu bem? O pessoal no Brasil sempre fica com esse receio. Uma pergunta que eu recebo frequentemente é se tem preconceito. Claro que eu já falei algumas vezes que não, mas como tem sido essa receptividade do pessoal aí?
Antonio Mutarelli: Eu, os fellows—tem eu de estudante, né, daí tem um alemão, uma mulher da Coreia do Sul e dois americanos. Então já tinha outras pessoas de outros países, e eles são super receptivos. No começo a gente tem dúvida de tudo e eles ajudam em tudo, tudo, tudo. E acho que eles veem também que é bom pra eles, né, porque se eles me ajudarem e eu conseguir produzir mais, eles vão produzir mais. Então foram muito receptivos. E assim, eu aprendi que com e-mail você vai conseguir chegar em algo que você precisa. Você vai mandando, vai achando a pessoa, eles estão ali pra te ajudar, sabe?
Rhanderson Cardoso: Perfeito. Conta como é a sua rotina no dia a dia. De novo, como o tema é Research Fellow, o pessoal tem muita curiosidade sobre isso. Então, o que você faz? Quando você chega no hospital? Quantas horas você fica no hospital? Essas coisas assim do dia a dia.
Antonio Mutarelli: Eu acho que é bem diferente. Eu também não sabia muito bem o que eu estava esperando; conversei com algumas pessoas antes, mas depende muito do dia e das cirurgias que vai ter ou não. Então, vou te dizer que a rotina varia muito, e o melhor é você conseguir fazer as suas coisas no tempo que tiver ali. Eu sou uma pessoa que gosta de acordar cedo e costumo acordar cedo. Então acordo cedo, vou pro hospital, tento chegar antes das oito todo dia e saio mais ou menos às cinco e meia, seis.
E daí tem dias que tem cirurgia que é mais cedo, tem dias que tem transplante que dura o dia inteiro, então depende um pouco.
Rhanderson Cardoso: E tudo isso que você mencionou aí são em animais?
Antonio Mutarelli: Tudo em animais, é.
Rhanderson Cardoso: Você tem algum contato com o paciente também? Tem pesquisa clínica no sentido do paciente?
Antonio Mutarelli: As pesquisas clínicas não acontecem aqui no Mass General, que é justamente as pesquisas, por exemplo, de cardiopatia reumática.
Rhanderson Cardoso: Internacionais.
Antonio Mutarelli: É, que são internacionais. Então a gente acaba recebendo, às vezes, sangue, o próprio tecido, e acaba que essa é a pesquisa clínica.
Rhanderson Cardoso: Muito bom. Uma pergunta também comum que eu recebo do pessoal—vou passar pra você aqui—é: quais habilidades, quais "skill sets" são importantes para se dar bem no Research Fellow? Agora a gente vai falar sobre conseguir a posição, mas com algumas semanas ali você possivelmente já viu as habilidades que vão ser mais requisitadas de você no Research Fellow. Quais seriam elas?
Antonio Mutarelli: Eu acho que a principal—eu ouvi do meu PI, e ouvi de orelhada porque ele não falou diretamente pra mim—mas eu estou tentando criar alguns outros projetos e estou com algumas dificuldades de sempre pedir aprovação, etc. E ele falou em inglês, mas em português ele disse assim: o Mass General é muito bom pra quem é independente, porque tem muitos dados, tem muito banco de dados muito organizado. Eu já trabalhei com banco de dados no Brasil, na minha faculdade, e dá pra trabalhar, só que não é tão organizado quanto aqui. Aqui tem o raio-X, tem a tomo, tem o eco, tem tudo do paciente. Então dá pra você realmente fazer estudo. Então acho que o principal realmente é a independência, você mostrar essa proatividade, sem precisar ficar demandando muito, porque a PI tem muito o que fazer. Então acaba que se você sempre ficar enchendo o saco, sempre: "Ah, o que você acha dessa ideia? O que você acha daquilo?" Acho que o melhor é independência.
Rhanderson Cardoso: É, e eu sempre falo isso pro pessoal: você não pode ir pro Research Fellow contando que as pessoas ali vão te ensinar tudo e ficar esperando receber mastigado o que você tem que fazer. Vão ter projetos pra você potencialmente trabalhar, alguns PIs, algumas equipes vão te dar apoio maior, mas há muita variabilidade, não sei, e realmente você tem que se virar.
Antonio Mutarelli: É, e acho que tem que mostrar também pra ele querer te ajudar mais. Posso dar o exemplo de que pedi uns dados recentemente, e pra pedir uns dados com identificadores eles precisam de IRB, como o comitê de ética.
Rhanderson Cardoso: O IRB é a aprovação do comitê de ética.
Antonio Mutarelli: Mas eles têm alguns dados sem esse IRB, enfim, são dados que você não sabe quem a pessoa é, você sabe mais ou menos a doença ou alguma coisa assim.
Rhanderson Cardoso: Isso se chama PHI, Protected Health Information. Então aqui nos Estados Unidos, como é no Brasil, mas principalmente aqui, eles são muito rigorosos com os dados dos pacientes. Mas realmente, se você está trabalhando com dados sem PHI—Protected Health Information—que seria o número, o nome do paciente, a data de nascimento e outros identificadores, aí em algumas circunstâncias você pode trabalhar sem aprovação do comitê de ética. Acho que é isso que você está se referindo.
Antonio Mutarelli: É isso, sem aprovação. Mas é porque eu solicitei uns dados que não precisavam da aprovação pra mostrar que a gente tinha um resultado pequeno pra pedir a aprovação, entendeu? Porque se eu pedisse a aprovação direto pra ele, ia ser uma burocracia. Mas agora eu mostrei: "Olha o que a gente já encontrou com esses dados que já tínhamos disponíveis."
Rhanderson Cardoso: É, tem disponível sem precisar disso. Agora vamos atrás disso, vamos pedir isso. Então acho que é essa coisa de independência, né?
Antonio Mutarelli: Muito bom, cara.
Rhanderson Cardoso: E seu Research Fellow é remunerado, Antonio?
Antonio Mutarelli: Não, não é. Tanto que o Massachusetts General Hospital, e acho que os outros também, têm muitos grants pro salário do Research Fellow. Então recentemente aplicaram pro do alemão, do meu colega, e esse mês tem outro que a gente vai aplicar com esse projeto que...
Rhanderson Cardoso: Pra você.
Antonio Mutarelli: Isso.
Rhanderson Cardoso: Legal. Então é uma ponte não remunerada pra eventualmente a possibilidade de ser remunerada.
Antonio Mutarelli: Exatamente.
Rhanderson Cardoso: Tem duração estimada? Um ano, dois anos?
Antonio Mutarelli: Um ano.
Rhanderson Cardoso: Maravilha. E aí você trancou a faculdade lá no Brasil pra vir pra cá, né?
Antonio Mutarelli: Tranquei.
Rhanderson Cardoso: Fala um pouquinho, comenta um pouquinho sobre isso, sobre essa decisão. Por que fazer o Research Fellow?
Antonio Mutarelli: Eu fiquei muito na dúvida, mas é até uma coisa engraçada que no começo da faculdade, na primeira semana, tinha uma atividade em que você tinha que escrever uma carta pra você mesmo no futuro e tal. E eu não sei por quê, mas eu escrevi lá que queria fazer dois intercâmbios.
Rhanderson Cardoso: Que legal.
Antonio Mutarelli: Não sei de onde tirei esse número, e não tinha aonde. Tipo assim: "Ah, são dois em tal lugar, em outro lugar." Não, eram dois. Não sei, acho que calouro, não estava pensando muito bem, eu escrevi na carta. Então alguma vontade eu sempre tive. E acho que foi uma oportunidade boa pra mim porque—não sei se a gente vai conversar sobre isso depois—mas não sei se quero continuar a minha carreira aqui ou não. Acho que esse ano pode me dar uma luz, né? E é uma luz pra mim.
Rhanderson Cardoso: É, faz todo o sentido. Eu realmente recomendo isso pro pessoal que está em dúvida se faz carreira nos Estados Unidos ou não: conhecer o país, conhecer o sistema de saúde, seja através de Research Fellow ou através de observership, clerkship e assim por diante. Vai ser uma experiência incrível na sua carreira, ainda mais com a equipe onde você está inserido, fazer pesquisa em animais e tudo isso aí vai ser muito legal. Mas e sobre trancar a faculdade especificamente, como foi essa burocracia? A UFMG facilitou esse processo? Sei que em alguns outros lugares pode-se encontrar uma barreira muito grande pra fazer isso.
Antonio Mutarelli: Não, a UFMG super facilitou. Acho que instituições muito grandes acabam sendo fáceis porque já muita gente passou por lá. Então, o meu problema—eu fico pensando que não fui o primeiro—foi rápido marcar uma reunião com o coordenador de ensino, e ele até deu dicas e tal, falou que achava que eu podia fazer, etc. Então foi muito, muito fácil.
Rhanderson Cardoso: Sabe o que eu acho fascinante aqui? Acabei de lembrar de um ponto importante. Na minha trajetória pessoal, quando eu estava na sua época na faculdade, já estava muito claro pra mim no internato que queria vir fazer residência nos Estados Unidos. Então eu tinha uma urgência, uma necessidade de fazer os Steps logo, aplicar logo e entrar direto na residência. E eu vejo a mudança na mentalidade das pessoas que estão aplicando hoje em dia: todo mundo se preparando muito melhor, pensando no Research Fellow com cuidado, publicando muito através de metanálise. Muitos dos nossos alunos querem vir pros Estados Unidos fazer residência, sem mais aquela urgência, pelo menos aquela urgência que eu tinha. E claro, existe uma variabilidade entre pessoas, entre indivíduos, mas eu vejo, de certa forma, na média, um shift, uma mudança do médico, do estudante de medicina que quer vir pros Estados Unidos de não ter essa urgência. Eu acho isso sensacional.

Rhanderson Cardoso: Pra mim deu muito certo. Eu terminei a faculdade muito jovem; eu me formei cinco dias antes de fazer vinte e dois anos. Eu antecipei a colação de grau, tinha vinte e um anos quando me formei. Entrei muito cedo na faculdade e ia formar em dezembro, meu aniversário era em novembro, e adiantei a colação de grau pra vir pros Estados Unidos. Então eu fiz tudo muito cedo, entrei na residência muito cedo.
Uma vez o ECFMG, que é a instituição que valida os diplomas internacionais, ligou pro meu programa de residência lá em Miami e falou: "A data de nascimento desse residente aqui está errada, não pode ser isso aqui". E eu não tinha nenhuma necessidade de fazer isso tão rápido, né? Acabou que foi bom na minha carreira, eu fiz nove anos de residência e ainda terminei relativamente cedo. Mas ouvindo você falar aqui, eu quis comentar essa questão de alguma mudança nesse paradigma, nessa mentalidade de pessoas muito boas como você, que talvez nem precisariam—se o objetivo fosse residência só nos Estados Unidos—nem precisariam fazer Research Fellow. Você já tem muitas publicações, a gente vai falar sobre isso, suas metanálises e tal, mas a experiência, o networking, o conhecimento que você agrega, a experiência de vida, tomar a decisão... Eu acho sensacional que as pessoas não estão simplesmente correndo como eu fiz na minha época pra já entrar direto na residência.
Antonio Mutarelli: É, eu acho que também varia de pessoa pra pessoa. Eu já falei pra você, assim, eu ainda estou no sexto ano, não sou médico formado, não sei indicar muitas coisas, mas eu pessoalmente sempre, desde que comecei a faculdade, fiquei nessa dúvida se era médico clínico, se era médico pesquisador, se era médico professor, professor clínico pesquisador. Então eu acho que, ainda mais eu dar esse passo, digamos, um pouco mais devagar, trancando a faculdade e etc., acho que também pode me ajudar nesse... saber me guiar no futuro, se realmente a pesquisa é o que eu quero, se é só a clínica.
Rhanderson Cardoso: Por exemplo, se você vier pros Estados Unidos, você vai ter muitas oportunidades de fazer os dois, seja fazer a carreira predominante de pesquisa ou ser "Clinician Scientist", onde você é médico na assistência e também faz bastante pesquisa. E aí o Research Fellow, além de te abrir portas, entrar numa residência mais forte, mais competitiva, ele vai te dar as ferramentas, o "skill set" mesmo, as habilidades necessárias pra você se destacar nessa carreira. Você vai aprender muito sobre grants, que é você conseguir o seu próprio dinheiro de pesquisa, que é uma dificuldade pras pessoas que trabalham em pesquisa. Todos os contatos, entender como funciona o sistema, as burocracias de pesquisa aqui nos Estados Unidos, então acho que vai valer demais na sua carreira mesmo.
Antonio Mutarelli: Estou torcendo também.
Rhanderson Cardoso: Essa é a ideia. Muito bom, cara, sensacional. E lá na UFMG o pessoal tem essa cultura? Eu sei que o Alexandre veio pra cá também. O pessoal tem essa cultura de sair ou realmente são poucas pessoas que fazem?
Antonio Mutarelli: É, como assim, entram trezentos e vinte por ano, cento e sessenta por semestre, então acho que tem muita gente, né? Acho que, enfim, tem várias pessoas que me inspiram na... o Pedro, a Isabela, enfim, são pessoas da UFMG que fizeram história, né?
Rhanderson Cardoso: Muito bom. Você comentou sobre o internato rural aí na UFMG. O Pedro, ele... o Pedro é aluno do Meta Academy, dos mais brilhantes que a gente teve também, e ele falou que fez o ano dele lá em Santana do Riacho. Ele fica fazendo piada sobre o Santana do Riacho, como... ele gostou, assim, no sentido positivo, como ele gostou bastante da experiência dele lá no internato rural. Acho que todos nós na faculdade de medicina lembramos aí do internato rural, época de marcar.
Antonio Mutarelli: E é uma mudança, né, assim, que você... pelo menos pra mim, eu morei sempre em São Paulo e depois Belo Horizonte.
Rhanderson Cardoso: Verdade.
Antonio Mutarelli: Mudar pra uma cidadezinha de sete mil habitantes com teu nome lá?
Rhanderson Cardoso: Salto da Divisa.
Antonio Mutarelli: Foi a primeira vez que eu fui pra uma cidade que a estrada acabava na cidade. Tipo assim. Porque às vezes você passa, a estrada passa, né, cidade mais ou menos cidade.
Rhanderson Cardoso: É.
Rhanderson Cardoso: Maravilha. E Antonio, vamos falar um pouco também do seu outro estágio, né? Você falou que tinha os dois objetivos de fazer os dois, você está no segundo aqui, né, e o outro foi na Itália, não é isso? Conta isso.
Antonio Mutarelli: A minha namorada faz medicina no Brasil—quer dizer, ela já é médica formada—e ela estava na rotação do internato dela, e o optativo ela conseguiu fazer lá na Itália, enfim, aquelas coisas de mandar e-mail, etc. E foi bem na época que eu tinha férias da minha faculdade, e daí eu falei: "Ah, eu vou acompanhar ela e tal, vamos ver, né". Então mandei e-mail pedindo, e eu fiquei lá um mês e meio, era estágio de imunologia, alergia e imunologia, assim, foi muito legal.
Rhanderson Cardoso: Você acompanhou ela então?
Antonio Mutarelli: Acompanhei. E toda segunda-feira tinha uma reunião de pesquisa do grupo, como de costume, né, desses grupos grandes de pesquisa pra discutir os trabalhos e como estava o andamento. E como ele é uma pessoa muito importante nesse meio da imunologia e do imunobiológico, a revista convidou ele pra fazer uma revisão sobre imunobiológicos na alergia alimentar. E lá na reunião que eu estava, na segunda-feira que eu insisti pra minha namorada pra eu ir—porque não era pra gente estar ali, mas eu queria ver, enfim—eu já tinha falado pra ele que eu gostava de pesquisa e tal, e ele ofereceu a revisão pro grupo.
Rhanderson Cardoso: Pro grupo, "quem quer" e tal, e estava todo mundo meio trabalhando em alguma coisa pesada e tal.
Antonio Mutarelli: E se prontificou.
Rhanderson Cardoso: E como era, eu acho que era a minha segunda semana, eu não sabia se podia, então eu fiquei meio assim: "Ah, vou ou não vou, vou ou não vou", mas ele viu que eu estava ali querendo e tal, ele falou: "Você quer assumir?" Eu falei: "Ué, quero, quero demais".
Rhanderson Cardoso: Em italiano tudo isso?
Antonio Mutarelli: Tudo, é, italiano.
Rhanderson Cardoso: Ah, família, não sabia que você falava italiano.
Antonio Mutarelli: Eu falo pouco assim, né?
Rhanderson Cardoso: Que legal, aí você escreveu...
Antonio Mutarelli: Eu escrevi o paper, foi meu primeiro paper como primeiro autor.
Rhanderson Cardoso: Muito legal.
Antonio Mutarelli: Eu até converso com algumas pessoas e tal, eu acho que a autonomia que eu falei antes, na independência, quanto me oferecer para escrever, eu acho que isso me ajudou muito, assim, ter... eu já sabia fazer metanálise, eu nunca tinha publicado uma porque já foi junto, assim, eu estava publicando minha primeira metanálise, mas assim, o curso de maneira geral me ensinou a escrever, sabe?
Rhanderson Cardoso: Sim.
Antonio Mutarelli: Me ensinou quais são os passos a fazer, então eu podia me oferecer a fazer aquilo, sabe? Eu acho que até vi uma entrevista anterior do MetaCast com o doutor André D'Avila.
Rhanderson Cardoso: Sim.
Antonio Mutarelli: Que ele falou que sempre... você sempre tem que estar preparado pro próximo desafio. Você nunca vai aceitar aquele desafio.
Rhanderson Cardoso: Exatamente assim. Então eu normalmente não estou tão preparado assim, mas eu sei que vou conseguir me preparar, porque também, né, não adianta você se oferecer pra alguma coisa que você não vai conseguir fazer, então eu sabia que de algum jeito eu ia conseguir.
Rhanderson Cardoso: É, foi realmente isso que o André falou, me marcou também, foi dos episódios marcantes aqui do MetaCast, né? Ele falou: se você tem boa vontade, disposição, faz bom trabalho, se comunica bem com as pessoas, o resto se resolve, né? Você vai com as habilidades que você tem e adquire novas habilidades no próximo desafio, você nunca vai estar cem por cento preparado pra pegar algo totalmente novo.
Antonio Mutarelli: Não, e disso eu até tenho outra história que era... eu estava fazendo estágio em toxicologia lá na UFMG, que é famoso esse estágio lá, a gente gosta bastante, e tinha outro pesquisador de biologia lá, e eu tinha feito paper com a minha professora, que tinha gráfico do Brasil, que eu não sabia fazer, foi o estatístico que fez, mas eu aprendi a mexer no R, ainda mais por causa do Meta-Analysis.
Rhanderson Cardoso: É, da metanálise.
Antonio Mutarelli: Aprendi a mexer no R, e ele falou: "Nossa, você sabe fazer esse gráfico?" Eu falei: "Ah, mais ou menos" e tal. E ele falou assim: "Nossa, estou precisando desse pra um trabalho meu. Você faria pra mim?"
Rhanderson Cardoso: Eu falei: "Ué, quase, claro, na hora".
Antonio Mutarelli: E daí no dia seguinte eu já estava no YouTube aprendendo, aprendi a fazer o gráfico, não sabia como fazer, mas eu aprendi na hora ali.
Rhanderson Cardoso: Muito bom, cara. Essa iniciativa, né? Você está preparado nunca cem por cento, mas disposto a aceitar o desafio.
Antonio Mutarelli: E aprender, né?
Rhanderson Cardoso: E pedir a oportunidade também, né? Aquilo de "a sorte favorece os preparados", né? Você está ali no momento certo, você se candidata e as coisas vão acontecendo.
Rhanderson Cardoso: Falando nas coisas acontecerem, conta como você conseguiu esse Research Fellowship específico, nas melhores instituições aí do mundo. O pessoal quer saber como que se alcança ou se pleiteia uma vaga dessa.
Antonio Mutarelli: Essa professora da minha faculdade, doutora Maria do Carmo, ela é uma grande referência na área, tanto de Chagas quanto de cardiopatia reumática, e eu estava trabalhando bastante com ela, e a gente conseguiu um grant junto com o pessoal aqui de Harvard pra fazer esse grant assim multimilionário pra conseguir fazer essa pesquisa que a gente está querendo fazer. E nisso, tanto o Alexandre quanto eu—o Alexandre é a pessoa que veio antes de mim, o fellow que estava aqui antes—acho que mostramos muito serviço pra ela e, com a cara de pau de pedir: "Tem como a gente ir lá e trabalhar de lá nessa parte, esse braço da nossa equipe?" Foi um pouco isso, assim, sabe?
Rhanderson Cardoso: Sim.
Antonio Mutarelli: Eu acho que no começo eu trabalhei muito com... ela pedia pra eu coletar dado, eu coletava; ela pedia: "Ah, quem pode vir aqui na segunda à noite anotar o paciente não sei o quê", "Ah, eu posso". Então eu fazia de tudo, assim. Teve dia que eu lembro também que ela trabalha muito com uma professora de biologia, e essa professora precisava de dados clínicos. E ela mandou pra doutora Maria do Carmo, mandou e-mail falando: "Olha, eu preciso desses dados". A professora me encaminhou o e-mail e eu, no dia seguinte, já tinha coletado todos os dados e mandei. No outro dia, essa outra professora de biologia pediu de novo outros dados e eu fiz a mesma coisa no mesmo dia. E daí a minha professora falou: "Ah, Antonio, você viu que ela pediu de novo?" Eu falei: "Ah, eu já enviei pra ela". "Você já enviou?" Eu falei: "É, sim" e tal, não sei o quê, porque realmente eu sabia que ela era uma pessoa que valoriza muito trabalho, sabe?
Rhanderson Cardoso: Sim, é, isso é muito bom. Você, independente de onde está—no caso, iniciação científica em Minas—fazer um trabalho muito bem feito vai abrindo oportunidades. Que legal que ela tinha essa conexão aqui e deu a oportunidade pra você estar aqui fazendo esse Research Fellow espetacular. É muito bom ver isso, a iniciação científica no Brasil que dá certo, né? Isso aí é uma oportunidade incrível pra você.
Antonio Mutarelli: Eu acho que, assim, a UFMG, eu não conheço tantas outras instituições, mas a UFMG tem muita pesquisa, né? Então lá, às vezes, é um lugar um pouco mais fácil de você conseguir. Mas já vi também, e já fiz muito também iniciação científica que não levou pra muito lugar.
Rhanderson Cardoso: Como foram os trâmites burocráticos uma vez que você teve essa conexão através da iniciação científica da sua professora lá, e aí o pessoal aqui te aceitou? Como é que foi a questão de papelada? Que documentação você teve que providenciar? Teve que fazer TOEFL? Conta um pouquinho dessa parte aí.
Antonio Mutarelli: Não, inglês eu não precisei provar o meu inglês. Eu já tinha trabalhado com eles em duas metanálises, na verdade, que eu tinha oferecido pra eles, então acho que eles já sabiam também que eu poderia ter essa independência aqui, né? Porque eles não iam aceitar alguém que, eu acho, não teria, né? Mas o trâmite foi... eu vim com o visto J, né? Então o trâmite é bem tranquilo nesse sentido, não precisei de nada mais.
Rhanderson Cardoso: Quanto tempo demorou, uma vez aceito pra vaga, pra fazer toda essa burocracia aí?
Antonio Mutarelli: Demorou uns sete meses, mas demorou um pouco mais também porque a faculdade, a minha faculdade, a UFMG, travou um pouquinho e tal, porque teve processo de greve recentemente e tal. Mas uma vez eu falando que estava precisando e tal, eles foram ótimos e me ajudaram nesse sentido.
Rhanderson Cardoso: Maravilha. E aí, vamos falar um pouquinho das metanálises em si. Você que, como eu disse, é um aluno que se destacou tanto, dá uma visão geral pro pessoal de quantas metanálises você já tem publicadas, quantas você tem que estão em análise por revistas, trabalhos apresentados em congressos, tudo isso aí.
Antonio Mutarelli: Eu tenho uma metanálise como primeiro autor, publicada; tenho duas que estão na revista—espero que aceitem logo—e tenho outras sete como coautor. Daí, de trabalhos de apresentação em congresso de metanálise, eu tenho três também próprios, que são essas três que eu fiz. Uma foi no American Heart Association e a outra foi como "Moderated Presentation" no ACC deste ano, no American College em Atlanta.
Rhanderson Cardoso: Isso, isso, maravilha. Espetacular. Cara, é incrível que você consegue fazer esse número, esse impacto nas publicações. Conta pro pessoal como foi essa sua jornada de aprendizado. Você que está numa excelente faculdade de medicina, tem oportunidade de pesquisa locais, está voando na iniciação científica, por que fazer metanálise e como foi o seu aprendizado aí?
Antonio Mutarelli: Tá, eu acho... eu valorizo muito o curso em si, sabe? Acho que até você fazer metanálise e tal, tem livro, tem, mas ali está bem mastigado, está fácil, mas não é isso que está vendendo lá ou que tem lá, porque lá tem outras coisas. Tudo que eu aprendi de fora de lá, eu acho que valeu muito, sabe? Aprender a escrever, aprender a pensar numa ideia, organizar texto, sabe? Aprendi a fazer estatística no R e que vocês ensinam a fazer metanálise no R, mas fazer metanálise no R e fazer outras estatísticas é parecido, sabe? Então, eu acho que me ajudaram muito, as pessoas aqui viram que eu sabia trabalhar, escrever, etc., mas eu acho que antes eu talvez não tinha essa faísca da independência, assim, porque eu sempre achei que a iniciação científica era o único lugar que ia me render artigo.
Antonio Mutarelli: Por que que eu, estudante de medicina, ia fazer artigo? Eu acho que não faz muito sentido, na minha cabeça não fazia. Eu acho que mudou isso, assim, sabe? Isso mudou em mim e eu comecei a pegar dados do DATASUS pra fazer artigo, escrever caso clínico que antes nem caso clínico eu escreveria, sabe?
Rhanderson Cardoso: Sim.
Antonio Mutarelli: Eu fico muito feliz em ouvir isso porque, claro, essa é a intenção. A intenção é não só ensinar a metanálise, mas ensinar que pessoas tenham essa autonomia, sejam capazes de desenvolver seus próprios projetos, liderar as suas ideias, convidar outros pesquisadores, escreverem, rodarem estatística, tudo isso aí.
Rhanderson Cardoso: Você mencionou agorinha que em desses projetos, pelo menos, tinha dois, tinha convidado o pessoal aqui do MGH pra ser coautor, pra ajudar você no seu segmento, não é isso?
Antonio Mutarelli: O próprio PI de hoje, assim, que está aí, eu convidei ele duas vezes.
Rhanderson Cardoso: E a ideia foi sua, não foi ideia da família.
Antonio Mutarelli: A ideia foi minha.
Rhanderson Cardoso: Aquela que...
Antonio Mutarelli: Eu acho que é mais fácil fazer ideias, lógico, quando você está muito inserido no tema, porque você sabe todas as... o que está precisando ali. Então eu estava muito inserido, fiz uma. Enquanto eu estava fazendo uma, na triagem eu achei quatro artigos de outra, então daí eu fiz a outra.
Rhanderson Cardoso: É isso aí, é uma excelente maneira de gerar ideias de pesquisa e ideias de metanálise, que eu acho que eu não inseri formalmente lá no treinamento do Meta Academy, que é você estar trabalhando uma ideia, mas aí você se torna expert naquele assunto, ou seja, porque você já tinha uma experiência prévia, seja porque você está lendo bastante sobre aquilo pra fazer a sua pesquisa, aí no contexto de fazer aquilo lá surge uma outra ideia. Quantas vezes eu estava trabalhando uma ideia de jeito, eu vi: "Olha, desse jeito aqui não dá certo, mas acabei de ter outra ideia de fazer uma outra metanálise relacionada". Funciona muito bem.
Antonio Mutarelli: É nesse screening, né, quando você está lendo viabilidade e tudo aquilo.
Rhanderson Cardoso: E, aliás, outro recado baseado na experiência do Antonio aqui é o seguinte: talvez você vá ser, ou sim, o expert mundial de doença reumática, fazendo a residência, depois imagem e global health, tudo isso. Agora, se isso for de fato acontecer, o fato de que você tem vários tipos de pesquisa em uma área só é um grande catalisador de você realmente se tornar reconhecido mundialmente em um tema. As pessoas que mais se destacam na medicina e na academia hoje são aquelas que têm nicho, né? Então você faz cardiopatia reumática, aí você faz o estudo animal, você faz a imagem, você faz a metanálise, você faz tudo sobre aquele tema ali. Isso aí vai te tornando uma autoridade que as pessoas—tudo que é relacionado àquilo—vêm o seu nome inserido nessas publicações.
Antonio Mutarelli: É, eu assim, eu não sei como é, não sei como vai ser, mas eu acho que você saber fazer hoje em dia, lógico, pra interpretar é importante, né? Mas te dá conforto, assim, porque às vezes é o pré-requisito pra você iniciar trabalho, né? Mostrar: "Olha, essa é a metanálise disso, está faltando isso, vamos iniciar trabalho assim" e tal. Então acho que não é só, enfim, a publicação e tal, você serve pra outras coisas ao redor, sabe?
Rhanderson Cardoso: Fato, sem dúvida nenhuma. Muito bom. E Antonio, também queria trocar uma ideia contigo sobre a sua formação inicial. Você me falou sobre o seu pai, queria trazer esse assunto aqui, que é muito conhecido na neurologia, professor. Conta um pouco sobre a influência dele na sua carreira, sobre tudo que ele representa para o ensino e neurologia no Brasil.
Antonio Mutarelli: Claro, vou dar um adendo que minha mãe é professora universitária.
Rhanderson Cardoso: Maravilha.
Antonio Mutarelli: De psicologia, e ela também é uma grande inspiração.
Rhanderson Cardoso: É, conta sobre os dois, por favor. Eu tinha mencionado o seu pai porque eu não tinha falado claro, né? E também porque a gente estava falando no contexto do nosso colega residente, João Paulo, que mencionou ele como inspiração na neurologia, mas por favor, conte sobre os dois aí pra gente.
Antonio Mutarelli: Então, fui criado numa casa de professores universitários, né? Os dois são professores da USP. Minha mãe é professora da psicologia e meu pai da medicina. Hoje em dia, minha mãe até é professora da medicina também lá na USP. É uma casa que sempre estudou muito, eles trabalham muito e gostam, amam muito o que fazem. Então acho que a minha grande inspiração é esse amor que eles têm pelo que fazem e a dedicação que eles têm pelas coisas que acham que valem a pena, né?
Então meu pai ama ensinar, então ele treina apresentação, ele monta uma apresentação e treina a apresentação em casa várias vezes, até hoje. Ele já sabe tudo de cor e salteado e treina a apresentação. A minha mãe, eu nunca vi ela abandonar aluno, sabe? Então tem alguns alunos que eu falo pra ela: "Mãe, não dá, esse aluno aí não dá". Ela fala: "Não, mas olha isso, esse aluno tem isso, tem aquilo". Então, sabe, ela é uma grande inspiração.
E o estudo deles... Eu até contei outro dia para você que eu vejo o meu pai, ele ama estudar e ele estuda domingo, assim, com alegria.
Rhanderson Cardoso: É, com alegria.
Antonio Mutarelli: Com alegria. Minha mãe, eu posso dizer que ela ama uma banca porque ela... Nossa Senhora, teve ano que ela teve, eu acho, dezessete bancas, né? Duas por mês. Lê uma até duas teses quase por mês, é uma coisa absurda. Meu pai tem outra coisa também engraçada, que ele, para estudar, ele vem aqui todo ano no Americano de Neurologia, compra as videoaulas, assiste, ele também faz a prova de título daqui para ver se ele ainda está podendo clinicar, que se ele não passar, aí ele não vai poder clinicar, segundo ele.
Rhanderson Cardoso: Que legal, sensacional. Grande inspiração. Contou isso aí, eu achei incrível ter essa referência aí para você em casa e para todos nós. Eu sei que outros alunos dele também têm referências incríveis, como o João Paulo, mencionei agora, que falou que foi uma das inspirações para ele entrar na neurologia.
Antonio Mutarelli: Ele me contou quando eu estava trabalhando com o João Paulo. Ele falou: "Ah", ele até perguntou assim: "Seu sobrenome e tal, você é parente?" Eu falei: "Meu pai". Ele falou: "Nossa, por que você não falou antes? Eu adorava as aulas dele" e tal. É raro ver aluno... Nunca vi, pelo menos falar para mim assim, é sempre... É bem marcante, sabe?

Antonio Mutarelli: Por que eu, estudante de medicina, iria fazer artigo? Eu acho que não fazia muito sentido, na minha cabeça não fazia. Eu acho que isso mudou, sabe? Isso mudou em mim e eu comecei a pegar dados do DATASUS pra fazer artigo, escrever caso clínico que antes nem caso clínico eu escreveria, sabe?
Rhanderson Cardoso: Sim. Eu fico muito feliz em ouvir isso porque, claro, essa é a intenção. A intenção é não só ensinar a metanálise, mas ensinar que as pessoas tenham essa autonomia, sejam capazes de desenvolver seus próprios projetos, liderar as suas ideias, convidar outros pesquisadores, escreverem, rodarem estatística, tudo isso aí.
Rhanderson Cardoso: Você mencionou agora que em desses projetos pelo menos tinha dois, tinha convidado o pessoal aqui do MGH pra ser coautor, pra ajudar você no seu segmento de análise, não é isso?
Antonio Mutarelli: O próprio PI de hoje, que está aí, eu convidei ele duas vezes.
Rhanderson Cardoso: E a ideia foi sua, não foi ideia da família.
Antonio Mutarelli: A ideia foi minha.
Rhanderson Cardoso: Aquela que...
Antonio Mutarelli: Eu acho que é mais fácil fazer ideias, lógico, quando você está muito inserido no tema, porque você sabe tudo o que está precisando ali. Então eu estava muito inserido, fiz uma. Enquanto eu estava fazendo uma, na triagem eu achei quatro artigos de outra, então daí eu fiz a outra.
Rhanderson Cardoso: É isso aí, é uma excelente maneira de gerar ideias de pesquisa e ideias de metanálise que eu acho que eu não inseri formalmente lá no treinamento do Meta Academy, que é você estar trabalhando uma ideia, mas aí você se torna expert naquele assunto, ou seja, porque você já tinha uma experiência prévia, seja porque você está lendo bastante sobre aquilo pra fazer a sua pesquisa, aí no contexto de fazer aquilo surge uma outra ideia. Quantas vezes eu estava trabalhando uma ideia e vi: "Olha, desse jeito aqui não dá certo, mas acabei de ter outra ideia de fazer uma outra metanálise relacionada". Funciona muito bem.
Antonio Mutarelli: É nesse screening, né, quando você está lendo viabilidade e tudo aquilo.
Rhanderson Cardoso: E aliás, outro recado baseado na experiência do Antonio aqui é o seguinte: talvez você vá ser, ou sim, o expert mundial de doença reumática, fazendo a residência, depois imagem e global health, tudo isso. Agora, se isso for de fato acontecer, o fato de que você tem vários tipos de pesquisa em uma área só é um grande catalisador de você realmente se tornar reconhecido mundialmente em um tema. As pessoas que mais se destacam na medicina e na academia hoje são aquelas que têm nicho, né? Então você faz cardiopatia reumática, aí você faz o estudo animal, você faz a imagem, você faz a metanálise, você faz tudo sobre aquele tema ali. Isso vai te tornando uma autoridade que as pessoas—tudo que é relacionado àquilo—veem o seu nome inserido nessas publicações.
Antonio Mutarelli: É, eu assim, eu não sei como é, não sei como vai ser, mas eu acho que você saber fazer hoje em dia, lógico, pra interpretar é importante, né? Mas te dá conforto, assim, porque às vezes é o pré-requisito pra você iniciar trabalho, né? Mostrar: "Olha, essa é a metanálise disso, está faltando isso, vamos iniciar trabalho assim" e tal. Então acho que não é só, enfim, a publicação e tal, você serve pra outras coisas ao redor, sabe?
Rhanderson Cardoso: Fato, sem dúvida nenhuma. Muito bom. E Antonio, também queria trocar uma ideia contigo sobre a sua formação inicial. Você me falou sobre o seu pai, queria trazer esse assunto aqui, que é muito conhecido na neurologia, professor. Conta um pouco sobre a influência dele na sua carreira, sobre tudo que ele representa para o ensino e neurologia no Brasil.
Antonio Mutarelli: Claro, vou dar um adendo que minha mãe é professora universitária.
Rhanderson Cardoso: Maravilha.
Antonio Mutarelli: De psicologia, e ela também é uma grande inspiração.
Rhanderson Cardoso: É, conta sobre os dois, por favor. Eu tinha mencionado o seu pai porque não tinha falado claro, né? E também porque a gente estava falando no contexto do nosso colega residente, João Paulo, que mencionou ele como inspiração na neurologia, mas por favor, conte sobre os dois aí pra gente.
Antonio Mutarelli: Então, fui criado numa casa de professores universitários, né? Os dois são professores da USP. Minha mãe é professora da psicologia e meu pai da medicina. Hoje em dia, minha mãe até é professora da medicina também lá na USP. É uma casa que sempre estudou muito, eles trabalham muito e gostam, amam muito o que fazem. Então acho que a minha grande inspiração é esse amor que eles têm pelo que fazem e a dedicação que eles têm pelas coisas que acham que valem a pena, né.
Então meu pai ama ensinar, então ele treina apresentação, ele monta uma apresentação e treina a apresentação em casa várias vezes, até hoje. Ele já sabe tudo de cor e salteado e treina a apresentação. A minha mãe, eu nunca vi ela abandonar aluno, sabe? Então, tem alguns alunos que eu falo pra ela: "Mãe, não dá, esse aluno aí não dá". Ela fala: "Não, mas olha isso, esse aluno tem isso, tem aquilo". Então, sabe, ela é uma grande inspiração.
E o estudo deles, eu até contei outro dia para você que eu vejo o meu pai, ele ama estudar e ele estuda domingo, assim, com alegria.
Rhanderson Cardoso: É, com alegria.
Antonio Mutarelli: Com alegria. Minha mãe, eu posso dizer que ela ama uma banca porque ela... Nossa Senhora, teve ano que ela teve, eu acho, dezessete bancas, né? Duas por mês. Lê uma até duas teses quase por mês, é uma coisa absurda. Meu pai tem outra coisa também engraçada, que ele, pra estudar, ele vem aqui todo ano no Americano de Neurologia, compra as videoaulas, assiste, ele também faz a prova de título daqui pra ver se ele ainda está podendo clinicar, que se ele não passar, aí ele não vai poder clinicar, segundo ele.
Rhanderson Cardoso: Que legal, sensacional. Grande inspiração. Contou isso aí, eu achei incrível ter essa referência aí pra você em casa e pra todos nós. Eu sei que outros alunos dele também têm referências incríveis, como o João Paulo, mencionei agora, que falou que foi uma das inspirações pra ele entrar na neurologia.
Antonio Mutarelli: Ele me contou quando eu estava trabalhando com o João Paulo. Ele até perguntou: "Seu sobrenome e tal, você é parente?" Eu falei: "Meu pai". Ele falou: "Nossa, por que você não falou antes? Eu adorava as aulas dele" e tal. É raro ver aluno... Nunca vi, pelo menos falar pra mim assim, é sempre... é bem marcante, sabe?

Rhanderson Cardoso: É, essa é uma das maiores alegrias que eu tenho também pessoalmente hoje, é ver o impacto na vida dos alunos, assim, quando eles voltam e falam. Você mencionou isso sobre o seu pai, e essa alegria minha profissional é ver o aluno voltar e falar: "Rhanderson, sua aula me ajudou, seu ensinamento me ajudou a publicar isso aqui, conseguir o Research Fellow, conseguir residência e tudo mais". É incrível esse sentimento de professor.
Antonio Mutarelli: Tem aluno dele que veio pra cá faz muito tempo, se formou há muito tempo, já até trabalha com outras coisas da medicina, numa clínica e tal, etc. E ele ficou sabendo que eu ia vir pra cá, ele pediu pro meu pai: "Por favor, deixa eu conversar, deixa eu ajudar", sabe? Queria muito, e me ajudou muito, assim.
Rhanderson Cardoso: Legal.
Antonio Mutarelli: Falou que eu podia fazer outras coisas e tal, então foi muito bom.
Rhanderson Cardoso: Muito bom. E Antonio, vamos falar um pouquinho agora, pra gente já encaminhar pra reta final aqui, sobre planos futuros. Você que está no último ano da faculdade, trancou lá pra fazer o Research Fellow aqui, vai passar um ano, depois voltando pro Brasil se forma, e depois?
Antonio Mutarelli: Uma boa pergunta. Depois, então, como eu falei no começo, quero aproveitar esse tempo aqui, fazer pesquisa, conhecer as pessoas, conhecer o sistema e ver se eu gosto, se é o lugar que eu quero ficar, sabe? Eu adoro Boston, então está fácil por enquanto. Então o meu plano é, depois desse tempo, voltar e me formar—faltam três rotações, então nove meses—e daí, depois que voltar, ter decidido se eu quero fazer a residência aqui, se eu quero fazer a residência lá no Brasil e tal. Mas eu acho que voltar eu quero, sabe? Fazer alguma parte da minha formação aqui, eu acho que eu quero sim.
Rhanderson Cardoso: Quais são os prós e contras aí que você está considerando? Imagino que a família é o grande...
Antonio Mutarelli: É difícil pra todo mundo, mas é a família. Eu acho que não pode focar só em instituição de excelência porque a gente tem outras instituições de excelência. Eu acho que aqui a vantagem é que você tem cem instituições de excelência e tal. Eu acho que uma outra vantagem daqui é a pesquisa, porque lá as pessoas que eu vejo que fazem pesquisa se esforçam muito e têm resultados que ficam aquém do que elas colocam de esforço, né? E do que elas mereceriam, assim, aplicar. Lá não tem esses grants todos, esse dinheiro todo, sabe? Tanto que a minha professora aplica pro NIH direto porque...
Rhanderson Cardoso: Lá no Brasil?
Antonio Mutarelli: É, no Brasil. Ela acha, e porque ela precisa do dinheiro pra continuar a pesquisa, né, claro. Então eu acho que isso é um ponto negativo no Brasil nesse sentido.
Rhanderson Cardoso: Eu sempre menciono isso aí pro pessoal que me pergunta a respeito também. Eu falo que, em termos de formação clínica, cirúrgica, na assistência, o Brasil tem excelentes instituições, claro que em números menores em relação aos Estados Unidos. Mas quando você considera fortemente uma carreira de pesquisa, aí não resta dúvida que os Estados Unidos oferecem um ambiente profissional muito mais propício pra você se destacar nessa área aí.
Claro que até mesmo nos Estados Unidos—nós já falamos sobre isso aqui antes—o salário do pesquisador, pelo menos nas fases iniciais da carreira, tende a ser inferior ao salário da pessoa que está na mesma fase da carreira e está trabalhando em tempo integral na assistência. Por exemplo, se você termina a residência de cardiologia e pega emprego acadêmico onde você trabalha oitenta por cento do tempo em pesquisa, você vai ter salário talvez metade ou terço do que teria na mesma fase de recém-formado, por exemplo, terminou residência e agora vai trabalhar na assistência. Até mesmo dentro de ambientes acadêmicos, o salário costuma ser menor.
Por outro lado, o salário costuma ser suficiente pra você se manter, e aí eles protegem o seu tempo pra você trabalhar em pegar esses grants e avançar a sua carreira, e eventualmente ter salário que pode até ser maior do que na assistência, dependendo dos seus resultados.
Antonio Mutarelli: Não, e aqui eles ajudam muito, né? Eu vejo o hospital, eles têm pessoas pra ajudar em tal grant, eles têm pessoas pra mostrar: "Olha, a gente tem esses dados que você quer aplicar". Eles... assim, então, eu não vejo isso lá, sabe? Lógico, não sou pesquisador lá, né, eu trabalho para alguém. Aqui eu estou começando a trabalhar independente nesse sentido, então eu não sei exatamente como é lá. Mas aqui você tem suporte enorme pra aplicar pros grants, pra pedir dinheiro pra continuar a sua pesquisa, assim. Eu acho isso uma grande valorização, sabe?
Rhanderson Cardoso: É, o apoio administrativo realmente que a gente tem aqui é espetacular. E não só administrativo, mas assim, do ponto de vista de suporte em pesquisa mesmo, precisar trocar uma ideia com pessoas em diferentes níveis de treinamento, estatístico, TI, é tudo muito fácil. E de novo, é uma visão um pouco enviesada de alguém que não fez isso no Brasil, mas do que eu vejo aqui realmente a gente tem muitas oportunidades.
Antonio Mutarelli: É, mas do que eu vejo lá é... é duro. O pessoal, assim, eu acho que trabalha mais do que seria o ideal pra realmente se dedicar à pesquisa, sabe?
Rhanderson Cardoso: Muito bom, Antonio. Prazer enorme é pra gente trocar ideia aqui contigo. Eu estou muito animado aí pros próximos passos da sua carreira. A gente estava falando sobre você voltar pro Brasil, essa questão da família ou não, a questão da família como pesa, como é importante. Você tem uma vantagem enorme em ficar no Brasil porque nos centros de excelência que a gente falou, no Brasil grande parte deles estão em São Paulo. Você é de São Paulo, se não me engano, não é isso?
Antonio Mutarelli: É verdade.
Rhanderson Cardoso: Pensei nisso aí quando você falou, porque eu... muito... você sai, né? Então eu já estando longe de ir pra São Paulo era longe de casa. Claro que você pega voo e em duas horas está em qualquer lugar do Brasil, pelo menos de onde eu era. Mas aí, pra estar longe de casa e morar em São Paulo, na época eu falei assim: "Ah, melhor estar em Miami só", porque aí o negócio aqui fica muito difícil de voltar depois, aí você fica sempre longe de casa. Mas são decisões difíceis que a gente toma na vida, faz parte do jogo. Acho que você vai ter eventualmente, em algum momento da sua carreira, vai ter muita clareza no qual é o próximo passo, só que demora um pouco.
Antonio Mutarelli: Estou esperando, mas está tranquilo que a gente...
Rhanderson Cardoso: O André D'Avila comentou sobre isso no episódio dele também, sobre ele que veio, voltou, veio de novo, agora está voltando de novo. Ele que já fez essa transição várias vezes, falou assim: tem pontos na nossa carreira que às vezes não são decisões racionais. Você sente uma vontade, um "gut feeling" de fazer, e: "Não, tem que ir pra esse caminho aqui", e você vai lá e faz. Eu tenho que tomar essas decisões difíceis toda hora, todos nós temos, e tudo que eu peço é muita guia e ajuda de Deus pra tomar a decisão certa, mas são decisões muito difíceis.
Antonio Mutarelli: São muito difíceis.
Rhanderson Cardoso: Nesse sentido, você já está preparando pra esse Step 1?
Antonio Mutarelli: É, então, eu até conversei com o doutor João Paulo—quem não conhece, ele tem o Instagram e tal—conversei um pouco e ele falou assim... é isso que a gente está falando, né? Não custa também, né? Se você está preparado... então eu comecei a estudar pra estar preparado.
Rhanderson Cardoso: Fazer o Step 1 lá e pronto, maravilha.
Antonio Mutarelli: Fazer o Step 1 lá e pronto.
Rhanderson Cardoso: Muito bom. O João Paulo, que já talvez vai escutar esse episódio, já deixo o meu agradecimento aqui porque ele mentorou, ajudou muitos alunos do Meta Academy como agradecimento também. Como expert aí nas edições passadas nossas, ajudou muitos dos nossos alunos na neurologia.
Rhanderson Cardoso: Muito bom, Antonio, sensacional. Eu vou encaminhando pra parte final desse episódio aqui, parabenizando você e dizendo não só parabéns pelos resultados, mas quão prazeroso tem sido trabalhar contigo e estar envolvido nos seus projetos, dar o apoio. Aprendi muito contigo, e é muito fácil o convívio, muito gente boa. Às vezes que nós nos encontramos nos congressos aí e agora aqui em Boston, cara, espetacular. Você é um cara sensacional e eu fico muito feliz pela nossa amizade, ter você como aluno, ver os seus resultados. É muito gratificante pra mim, assim.
Antonio Mutarelli: É uma honra ouvir isso de você, muito obrigado. Eu não sei se você lembra, mas teve uma reunião que a gente teve antes mesmo de eu entrar e tal. Eu tinha falado que tinha feito o curso de ECG e eu falei assim: "Nossa, o que decidiu eu fazer o Meta-Analysis Academy foi: nossa, como é boa a aula dele". Então, desde o começo, assim, eu acho que vejo você como inspiração nessa dedicação de querer ajudar, sabe? Não sei se você... eu mandava uma mensagem no WhatsApp e você me respondia, no Instagram você responde as pessoas o tempo todo, sabe? Então, queria te agradecer demais, assim.
Rhanderson Cardoso: Muito obrigado.
Antonio Mutarelli: Pra mim fez muita, muita diferença.
Rhanderson Cardoso: Muito obrigado, eu agradeço muito. Eu não meço esforços pra estar disponível pra ajudar os alunos, as pessoas que confiam em mim a responsabilidade de ensiná-las. Eu sei que é investimento de tempo, às vezes é investimento financeiro significativo pras pessoas, então eu não, como se diz em inglês, "I don't take this lightly", eu não levo isso de forma trivial ou leviana, eu realmente dou peso muito forte pra isso aí.
E eu fico honrado e muito feliz em ver o resultado espetacular que você está colhendo na sua carreira e muito mais que vai vir pela frente.
Rhanderson Cardoso: Recado final pro pessoal ali que se inspirou na sua história, que talvez está lá no Brasil, em Minas ou em outros lugares e quer talvez seguir uma carreira internacional, talvez quer publicar, quer fazer o Research Fellow, quer fazer a metanálise, mas que se sentem inspirados aí pela sua história.
Antonio Mutarelli: Primeiro, queria agradecer de novo o convite, foi muito boa a conversa. Eu já falei pro Rhanderson que fico um pouco envergonhado que eu sou apenas estudante, mas eu queria dar uma dica talvez que ontem, falando com o meu pai, que a gente falou no episódio, conversando com ele essa coisa de Step, não sei o quê, se eu faço isso, faço aquilo, ele falou: "Filho, se for fazer, não existe mais ou menos, tem que entrar de cabeça". Ele falou: "Então se é pra fazer, é pra fazer". Então quando eu comecei o curso de metanálise, eu falei: "Então eu vou publicar, vou publicar uma metanálise, eu quero aprender a fazer isso. Eu estou aqui, eu quero sair aprendendo bioestatística, sabendo mexer com os animais". Então acho que essa é a minha dica, assim, eu acho que entre de cabeça em tudo que você for fazer.
Rhanderson Cardoso: É.
Antonio Mutarelli: Você pega muita coisa, depois você vai saber o que priorizar.
Rhanderson Cardoso: É, o que priorizar, mas então entrar de cabeça.
Antonio Mutarelli: Isso.
Rhanderson Cardoso: Me lembro agora do que você falou e as palavras de Ayrton Senna, né? Ayrton Senna falou, entre muitas outras grandes frases, sobre o respeito à dedicação, ao empenho, ao esforço: não existe meio termo, né? Você não faz... ou se for fazer, você dá realmente o seu melhor.
Antonio Mutarelli: É.
Rhanderson Cardoso: Muito bom. E aproveito que talvez doutor e doutora Mutarelli, pai e mãe, vão assistir esse aqui, então já fica o convite. Eu falei pra você ontem, essa semana no Uber, falei que quero recebê-los aqui também para o MetaCast, pra educar... educar sobre como educar, como...
Antonio Mutarelli: Sobre inspiração.
Rhanderson Cardoso: Sobre inspiração, sem dúvida que eles são pra todos nós. Antonio, muito obrigado, foi um prazer ter você aqui no MetaCast.
Avisando a todos vocês, pessoal, o MetaCast é o podcast do Meta-Analysis Academy. Nós temos episódios em português, temos episódios em inglês, convidados nacionais e internacionais. Aproveite pra conhecer sobre medicina na Austrália, na Itália, sobre carreiras de sucesso, é o que nós falamos aqui. Confira todos os episódios, confira também o nosso Instagram, @metaanalysis.academy, e entre na nossa lista de espera pra participar de edições futuras aí do intensivo de metas, a versão em português, ou Meta-Analysis Academy versão em inglês.
Você veja que até mesmo no caso do Antonio, que fez iniciação científica, faz agora trabalho em animais, faz o Research Fellow, a metanálise teve papel fundamental no aprendizado de estatística, no aprendizado de escrita e inserção nesse mundo de pesquisa. Foi assim na minha carreira também, mas principalmente em termos de resultados. O Antonio fez muita pesquisa na iniciação científica, está fazendo muito aqui no Research Fellow e seguindo o caminho das metanálises, provavelmente vai ter número até maior de metanálises publicadas em breve—sete a dez, pelo que ele falou aqui—do que outros tipos de pesquisa. Então não perca a oportunidade de aprender conosco aí no Meta-Analysis Academy.
Rhanderson Cardoso: Antonio, muito obrigado pela sua participação aqui.
Antonio Mutarelli: Obrigado.

Criadores e convidados

Rhanderson Cardoso
Apresentador
Rhanderson Cardoso
Clinical Cardiologist and Cardiac Imaging @BrighamWomens @harvardmed |Former cardiology fellow @hopkinsheart @ciccaronecenter
Antonio Mutarelli
Convidado
Antonio Mutarelli
Estudante de Medicina da UFMG
MetaCast PT #09 - Um ano de pesquisa em Harvard ainda durante a Faculdade de Medicina
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